A proposta deste debate era aproveitar a presença de Guias experientes e conceituados para elaborar e divulgar, como sugestão a todos os montanhistas, um protocolo de procedimentos básicos a ser adotado em caso de acidente em montanha, no atual estado das “coisas” aqui no Rio de Janeiro – relacionamento com o CBMERJ, disponibilidade de pessoas e equipamentos, etc.

Esta sugestão de protocolo poderá vir a ser desenvolvida, adaptada e melhorada pelos clubes, associações e outros grupos que tiverem interesse. Foi sugerido também que sejam aproveitadas ideias de outros protocolos existentes, para que ninguém fique inventando a roda e perdendo tempo.

Vale lembrar que o primordial é a prevenção, e que a excursão mais segura é aquela que tem uma boa logística, uma boa estratégia e um grupo de pessoas bem preparadas tanto técnica quanto fisicamente para ela. Isso, em outras palavras, quer dizer que uma escalada nos Coloridos pode, eventualmente, ser muito mais perigosa do que outra, na Face Sul do Corcovado.

Como era de se esperar numa reunião aberta, várias sugestões foram dadas, dentro e fora do tema do debate. Abaixo, a proposta condensada do que pudemos obter deste encontro.

Para facilitar o entendimento, tomarei como exemplo uma situação hipotética, que utilizamos, em parte, ontem. Esta hipótese pode servir de exemplo para várias outras situações:

Local: Agulha do Diabo
Grupo: 4 pessoas (2 cordadas).
Acidente: Queda de guia na chaminé da unha.
Consequência: perna fraturada, lesões no tronco, desmaio / tonteira.

PROCEDIMENTOS:

1- ANÁLISE DA CENA.
Os participantes da excursão devem verificar se, baseado nos conhecimentos de 1°s socorros de cada um, há algo que precisa ser feito ao acidentado, com urgência, para lhe salvar a vida. Se houver, que seja feito. Se não houver, deve-se movimentá-lo o mínimo possível (ou nada, de preferência), até a chegada da equipe de resgate.

2- PEDIDO DE SOCORRO:
Hoje em dia todos tem telefone celular e essa é a forma mais rápida de se pedir socorro. Na Agulha do Diabo a maioria dos celulares não recebe sinal (acho que apenas Nextel pega lá).
Então, há duas hipóteses:

2.1 – O CELULAR “PEGA”.
Um dos integrantes do grupo liga para algum montanhista de seu conhecimento e pede socorro (SOS). Este montanhista que recebe o pedido de socorro (SOS) passará a coordenar o resgate ou delegará essa função para outro. Importante: a resposta a um SOS nunca deve ser “eu não posso”. Se quem receber o SOS não puder participar e/ou coordenar o resgate, deverá encontrar quem o faça.
A função de encontrar a pessoa que vai coordenar o resgate NÃO deve ser de quem está pedindo socorro.
Definido quem irá coordenar o resgate (vamos chamar de COORDENADOR), este será a única via de contato com o local do acidente, que também deverá determinar quem ficará com o telefone (que também só deverá manter contato com o Coordenador).
O Coordenador deverá estar, de preferência, em casa, ou próximo a um telefone fixo e com celular ligado.

2.2 – O CELULAR NÃO “PEGA”.
Um (ou dois) integrantes do grupo deverá procurar um local onde seja possível fazer contato telefônico. No exemplo citado, talvez Pedra da Cruz e arredores. É muito importante que o contato seja feito e também muito importante que este contato seja mantido até o final do resgate.

3 – BOMBEIROS.
O resgate deve ser sempre feito pelo CBMERJ. Sempre! Os montanhistas podem (e devem) ajudá-los, mas nunca efetuar um resgate à revelia do CBMERJ.
A primeira providência do Coordenador deverá ser ligar para 192 e pedir ajuda, informando o local do acidente, o estado geral do acidentado e outras informações pertinentes ao caso. Uma boa atitude do coordenador seria enviar alguém para algum quartel de bombeiros, para acompanhar o caso de perto. A presença desta pessoa no quartel, qualquer que seja ele (eles se comunicam por rádio), ajudará a dar credibilidade à urgência solicitada para o atendimento.

4 – EQUIPE DE APOIO.
O resgate pode ser feito por terra ou através de helicóptero. Quem determina isso é o CBMERJ. No caso de helicóptero, é importante que algumas pessoas do grupo do acidentado se mantenham bem “visíveis”, para orientar o piloto.
No caso de o resgate ter que ser feito por terra, é possível que os bombeiros precisem da ajuda de montanhistas para chegar ao local do acidente. Neste caso, será de responsabilidade do Coordenador encontrar e orientar estes montanhistas, que formarão a equipe de apoio do resgate – que podem até, eventualmente, ser aqueles que já estão no local.

5 – FAMÍLIA DO ACIDENTADO;
O Coordenador se responsabilizará (ou delegará esta função para terceiros) por comunicar a ocorrência à família do acidentado e manter, com ela, contato estreito. É importante informar para que hospital ele está sendo transportado, para que a família providencie o que for necessário.
O Coordenador deverá também encontrar quem possa ir até o hospital para onde o acidentado está sendo transportado, para que essa pessoa faça o acompanhamento do mesmo até que a sua família assuma o caso.

CBMERJ:
Muitas pessoas salientaram a importância de uma maior aproximação entre os montanhistas e o CBMERJ. Essa aproximação, segundo a maioria dos presentes, deve ser feita via FEMERJ e será fundamental para uma eventual futura elaboração de Equipe de Resgate formada por montanhistas.

O QUE NÃO SE DEVE FAZER NUM ACIDENTE EM MONTANHA:
1- Efetuar um resgate sem a presença do CBMERJ.
2- Se colocar numa situação de alto risco para efetuar um resgate.
3- Pedir ajuda a várias pessoas diferentes.
4- Perder contato telefônico com o Coordenador.
5- Tentar resolver o problema sozinho, deixando que a emoção se sobreponha à razão.

Muito obrigado ao Flavio “Bagre” Carneiro, Sergio “Bula” Rozencwaig, Arthur “Arthurzinho da Urca” Esteves e aos guias do Cerj por aceitarem o meu convite e abrilhantarem este debate.

Rafael Villaça