Em geral, quando chegamos aos 20 anos, passamos a nos comportar como se vacinação fosse apenas assunto para as crianças. As campanhas de vacinação em massa, com os Dias Nacionais de Luta contra a poliomielite, acabam por ofuscar a importância de outras vacinas, indispensáveis para todos os grupos etários. Até pouco tempo, a única exceção consistia na realização de campanhas para vacinar pessoas acima de 60 anos contra a gripe (Influenza). Ultimamente, com o surgimento de numerosos casos de Febre Amarela (FA) em pessoas que vivem ou que estiveram na Região Centro-Oeste, cresceu o debate acerca da necessidade de se tomar esta vacina. A orientação do Ministério da Saúde, seguindo as normas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde, é a de que toda pessoa – criança maior de 9 meses, adulto ou idoso – que viva ou que vá viajar para as áreas endêmicas, (estados: AP, TO, MA, MT, MS, RO, AC, RR, AM, PA, GO e DF), áreas de transição (alguns municípios dos estados: PI, BA, MG, SP, PR, SC e RS) e áreas de risco potencial (alguns municípios dos estados BA, ES e MG * veja mapa na página Internet do MS, www.saude.gov.br), deva se vacinar 10 (dez) dias antes da viagem.

E os montanhistas, como ficam nesta história?

Quanto à Febre Amarela, está afastada, no momento, a transmissão urbana: todos os casos registrados são de pessoas que tiveram contato com o vírus após penetrar em área de mata. O agente da FA não circula entre os reservatórios naturais do vírus no estado do Rio de Janeiro, isto é, nossos macacos não são portadores, e, portanto, mesmo se picados por mosquitos, não haverá transmissão. Ou seja: *para quem mora no Rio, e não pretende viajar para as áreas citadas, não há necessidade de vacinar-se agora, e engrossar a corrida aos postos, numa atitude de pânico coletivo. *

Entretanto, caso seja necessário vacinar-se, não deixe de fazê-lo: a vacina confere imunidade por 10 anos, não há provas de que cause efeitos colaterais graves, nem que interaja com o vírus da dengue. Existem controvérsias a respeito de uma possível imunidade cruzada: a vacina da FA poderia talvez proteger contra casos graves de dengue, o que não está ainda provado. O inverso, portanto, também não foi confirmado, ou seja, a vacina da FA NÃO aumenta o risco de dengue hemorrágico, sendo que a FA é muito mais letal do que o dengue!!!

Outra vacina, entretanto, muito mais banal, é frequentemente esquecida, apesar de sua grande utilidade: a vacina antitetânica, aplicada, para adultos, na forma de vacina dupla DT (Difteria-Tétano), com necessidade de reforço a cada 10 anos. O tétano é uma doença grave, de difícil tratamento, causado por uma bactéria cujos esporos, muito resistentes, vivem na terra, e é facilmente contraído em caso de ferimentos contaminados. Enquanto hoje, no Brasil, todas as crianças já recebem vacina tríplice (Tétano-Difteria e Coqueluche), assim como as gestantes (para prevenção do tétano neonatal), infelizmente, não se faz o mesmo esforço para manter os adultos com sua vacinação atualizada. Qualquer posto de saúde aplica gratuitamente tanto o esquema inicial de 3 doses de vacinação antitetânica (com intervalos de 2 meses entre cada dose), assim como o simples reforço, suficiente a cada dez anos. *Todo(a) montanhista vacinado há mais de 10 anos deveria receber ao menos uma dose de reforço da vacina DT*. Estamos todos sujeitos a pequenos acidentes, mesmo em caminhadas, e uma simples providência pode evitar muitos problemas posteriores. Não esqueçamos, além disso, da boa lavagem, com muita água e sabão de coco, que ajuda a limpar os ferimentos e diminuir os riscos de infecção.

Existe também a vacina contra Hepatite tipo B, aplicada na rede pública há mais de 10 anos. Como o vírus da Hepatite B é encontrado em todos os fluidos corporais (sangue, saliva, sem em), a vacina tem seu uso recomendado sobretudo para profissionais de saúde, do sexo, e usuários de drogas injetáveis. Atualmente, esta vacina já foi incluída no calendário de vacinação de crianças e adolescentes.

Finalmente, para aqueles que nunca foram vacinados, recomenda-se, em qualquer tempo, uma dose única da vacina tríplice viral, contra Sarampo, Caxumba e Rubéola. Isso porque estas doenças, que costumam ser benignas na infância, podem apresentar formas graves quando acometem adultos. Todas estas vacinas podem ser encontradas nos Postos de Saúde de rede pública, pois pertencem ao Programa Nacional de Imunizações, não sendo necessário, portanto pagar por elas. Ou seja, definitivamente, VACINA NÃO É SÓ PAPO DE CRIANÇA, e montanhista esperto se previne!

PS: No meu ponto de vista pessoal, e também no de alguns especialistas em Saúde Pública, aconselho a todos, *depois de passados o alarde e a histeria coletiva*, *com o fluxo já normalizado*, a manter-se permanentemente em dia com a vacina contra a Febre Amarela, mesmo que não pretendam sair do Rio de Janeiro. A infestação do Estado do Rio pelo /_Aedes aegypti_/, mosquito transmissor tanto da dengue quanto da FA, nos coloca a nós, cariocas e fluminenses, numa posição muito vulnerável. A existência de corredores ecológicos, interligando ecossistemas distintos, com matas contínuas, permitiria em teoria que um vírus circulando na Selva Amazônica chegasse à Mata Atlântica. Basta isso para que a FA deixe de ser puramente silvestre, e que sua urbanização se reinstale, o que já vivemos nos primórdios do século XX.

Bibliografia:

Benenson, Abram – El Control de las Enfermedades Transmisibles en el Hombre. Publicacion Cientifica no. 538- 15 a. Ed.

OPAS – FUNASA – Manual de Normas de vacinação – Ministério da Saúde – 3 a. Edição. 2001.

Maria Lúcia Fernandes Penna – Instituto de Medicina Social – UERJ – Comunicação Pessoal.

 

Calendário de Vacinação do Adulto e do Idoso

IDADE VACINAS DOSES DOENÇAS EVITADAS
A partir de 20 anos dT (Dupla tipo adulto)(1) 1ª dose Contra Difteria e Tétano
Febre amarela(2) dose inicial Contra Febre Amarela
SCR (Tríplice viral)(3) dose única Contra Sarampo, Caxumba e Rubéola
2 meses após a 1ª dose contra Difteria e Tétano dT (Dupla tipo adulto) 2ª dose Contra Difteria e Tétano
4 meses após a 1ª dose contra Difteria e Tétano dT (Dupla tipo adulto) 3ª dose Contra Difteria e Tétano
a cada 10 anos, por toda a vida dT (Dupla tipo adulto)(4) reforço Contra Difteria e Tétano
Febre amarela reforço Contra Febre Amarela
60 anos ou mais Influenza(5) dose anual Contra Influenza ou Gripe
Pneumococo(6) dose única Contra Pneumonia causada pelo pneumococo

(1) A partir dos 20 (vinte) anos, gestante, não gestante, homens e idosos que não tiverem comprovação de vacinação anterior, seguir o esquema acima. Apresentando documentação com esquema incompleto, completar o esquema já iniciado. O intervalo mínimo entre as doses é de 30 dias.

(2) Adulto/idoso que resida ou que for viajar para área endêmica (estados: AP, TO, MA, MT, MS, RO, AC, RR, AM, PA, GO e DF), área de transição (alguns municípios dos estados: PI, BA, MG, SP, PR, SC e RS) e área de risco potencial (alguns municípios dos estados BA, ES e MG). Em viagem para essas áreas, vacinar 10 (dez) dias antes da viagem.

(3) A vacina tríplice viral – SCR (Sarampo, Caxumba e Rubéola) deve ser administrada em mulheres de 12 a 49 anos que não tiverem comprovação de vacinação anterior e em homens até 39 (trinta e nove) anos.

(4) Mulher grávida que esteja com a vacina em dia, mas recebeu sua última dose há mais de 05 (cinco) anos, precisa receber uma dose de reforço. A dose deve ser aplicada no mínimo 20 dias antes da data provável do parto. Em caso de ferimentos graves, a dose de reforço deverá ser antecipada para cinco anos após a última dose.

(5) A vacina contra Influenza é oferecida anualmente durante a Campanha Nacional de Vacinação do Idoso.

(6) A vacina contra pneumococo é aplicada durante a Campanha Nacional de Vacinação do Idoso nos indivíduos que convivem em instituições fechadas, tais como casas geriátricas, hospitais, asilos e casas de repouso, com apenas um reforço cinco anos após a dose inicial.