Emilio e eu resolvemos aproveitar o feriadão nas montanhas e encarar a travessia Itatiaia – Maromba e ainda o Pico da Serra Negra.
Entramos num grupo de 10 pessoas (e dois guias) da Pisa e lá fomos nós, na sexta a tarde para Itanhandu, onde dormimos e no sábado, com alvorada às 5:30h seguimos às 6:30h, para a entrada do Parque de Itatiaia.
Fugindo da rota tradicional que passa pelo abrigo Rebouças, seguimos pelo circuito dos cinco lagos, que embora um pouquinho mais curto, acaba exigindo mais pela inclinação. O cenário era tão extasiante que mal dava pra sentir o esforço. O tempo ajudou e só pegamos chuva — e que chuva! – depois do almoço, quando já investimos rumo à base da Serra Negra, onde dormiríamos.
E lá fomos nós, colocando na mochila a primeira experiência de uma trilha sob tempestade. Por orientação do guia, o mais prudente seria não parar para o próximo descanso programado e lá fomos nós, embalados por 2:45h de ininterruptos sobe e desce, encharcados. Chegamos ao abrigo exaustos e recapitulando o quanto nossas aulas no CBC foram importantes pra nossa desenvoltura na trilha. A satisfação de estarmos ali no meio de uma galera super bacana — que a essa altura já tinham virado “amigos de uma vida” — bebendo vinho e morrendo de rir dos perrengues passados não tinha preço! Mal sabíamos que ainda tinha muito mais perrengue por vir!
No dia seguintes continuou a chuva e como estávamos bem cansados e o Emilio com os joelhos em frangalhos, resolvemos deixar o pico da Serra Negra para outra oportunidade. Foi difícil tomar a decisão, pois já estamos nos imaginado lá no cume, com a bandeira do Cerj tremulando ao vento…
Fizemos, então, algumas trilhas leves e lindas perto do abrigo, namoramos muito e dormimos muuuito, naquele paraíso geladinho e submerso em neblina.
Decisão mais do que acertada, pois no dia seguinte estávamos novamente com 20 anos, turbinados e prontos pra encarar as estimadas 5/6h — com merecidos descansos — restantes da travessia até Maromba!
O dia amanheceu com um solzinho tímido e imaginamos que seria dali pra melhor. Nada disso! 100m depois de sairmos, as nuvens baixaram em minutos e tivemos que correr para colocar capas nas mochilas e anorak.
E lá fomos nós encarando sob uma baita chuva o toca pra cima da famigerada Subida da Misericórdia.
Quase 2h depois, sem pausa, o pelotão da dianteira esperou para reunir todo o grupo e o guia dar as orientações: estávamos no finalzinho da subida e a partir dali teríamos uma área super exposta e com a neblina e vento forte que estava, teríamos que nos aquecer (gorros e fleece seco em tempo recorde), nos manter juntos, sem dispersar e sairmos rápido dali. Essa era a orientação: não parar para se manter aquecido, não dispensar para não perder ninguém na neblina, e encarar a tempestade para sair com prudência e segurança da montanha.
Nosso acertadíssimo dia de descanso anterior e as orientações do Carrô e Ximi nas aulas praticas do CBC fizeram toda a diferença naquele momento e nos que estavam por vir: manter a calma, focar e encarar!
Encharcados e sob um frio de gelar a alma chegamos ao cume e para completar o cenário começaram os relâmpagos. Mais uma orientação do guia: marchar com prudência e rapidamente para sair da área exposta sobre a pedra, para evitar a tempestade elétrica que ameaçava chegar a até nós. Era seguir ou seguir!
Acho que nunca imaginei ter músculos tão fortes e tanto equilíbrio como os que encontrei para encarar e atravessar aquele descampado sob a pedra que parecia não ter fim…As botas estavam encharcadas, as calças também…E eu morro de medo de tempestades!
Quando entramos novamente na mata, tínhamos sob nossos pés um verdadeiro riacho, mas sem a ameaça dos relâmpagos, tínhamos a sensação de adorável segurança.
E assim descemos, comendo bananas e castanhas sem qualquer pausa, entre escorregões homéricos e muita lama.
Com exatas 4h de caminhada ininterrupta chegamos a Maromba, inteiros e incrivelmente bem dispostos. A endorfina, se medida, naquela hora, estava nas alturas!!
A alegria de termos colocado na mochila mais essa fantástica experiência — fazer trilha em um lindo dia de sol é mole! — só nos faz acreditar o quão acertado foi nossa decisão de, a essa altura da vida, abraçarmos o montanhismo.
A chuva forte e a correria não nos permitiu mais do que a foto ruim, anexa, da nossa bandeira, mas deem o merecido desconto! As demais, a seco, tentam mostrar a nossa satisfação de estar ali! Vamos colocar outras no Face!
Bjka grande, AP e Emilio