Remando por um almoço por Lívia Silvia Cardoso
Saímos do Rio de Janeiro em direção ao Sahy umas 4h40 da manhã, e chegamos em Mangaratiba, onde alugaríamos uma prancha de SUP, 1h antes do combinado. Sem resposta do responsável a essa hora, dei um cochilo no carro. Às 7h fomos enfim coletar a prancha e colocar no rack do carro para nosso destino final, quer dizer, onde deixaríamos o carro para começar de fato nossa viagem, Paraty Mirim. Encontramos facilmente um local para estacionar e Xandão, que levou o seu SUP, o insuflou para partirmos para praia. Iniciamos a remada por volta de 11h com o mar batendo mesmo ali. Tentei ficar de pé na prancha e desequilibrei, um bom banho na água fresca logo de início. Seguimos remando tranquilos em águas marolentas até a entrada do saco do Mamanguá. Eu, que só havia remado em remansos em dias brincantes, fui me acostumando com o remo e a prancha. A virada para entrar no saco segundo as informações que tínhamos seria o trecho mais delicado, pois nossa exposição ao vento seria maior. E realmente sentimos um pouco mais de dificuldade na remada, mas sem maiores aperreios. Dentro do saco não estava a calmaria que esperávamos, e mesmo mais abrigados ainda estava com um vento contra considerável. Apesar disso, a remada estava prazerosa naquele dia de céu azul e sol brilhante. Seguimos nosso caminho adentrando ao saco do Mamanguá até a praia do Cruzeiro. Aportamos por lá por volta das 15h10 sob olhares curiosos. Já encomendamos nosso almoço no restaurante do camping do Orlando e seguimos a remo para o camping do Prea, figura local que nos recebeu em pessoa. Após montar nossas barracas voltamos caminhando por entre as casas até o camping do Orlando, onde nos fartamos com aquele bom PF…sabem como é brasileiro tem fome de comida mesmo! Depois desse almoço tardio só mesmo um banho…e dormir! Sim, dormi muito cedo!
Para despertar no dia seguinte e já se aprontar para remar novamente. Colocamos as pranchas naquele mar liso e partimos para o fundo do saco do Mamanguá. A manhã estava muito agradável, com uma luz ainda tênue dos raios de sol que escapavam por entre as montanhas e um ar ainda fresco. O sol foi se mostrando às nossas costas enquanto víamos seus raios refletidos nas águas a cada remada. Ao chegar na entrada do mangue paramos e deitamos em nossas pranchas, aproveitando esse momento com nossos próprios pensamentos, meditações ou reflexões. Vez ou outra um peixe pulando fazia um barulho alto e me despertava do meu transe. Depois de um bom tempo por ali, e quando os barcos à motor começaram a navegar decidimos voltar. Primeiro remamos até uma prainha, onde nos quedamos um pouco admirando o lugar bucólico. E ao sair dessa praia nos propusemos a experimentar trocar as pranchas. A remada na prancha maior e inflável foi mais pesada para mim, e o vento contra cada vez mais forte não ajudou. Foi preciso colocar mais força e empenho em cada remada, e mesmo assim sentia que o vento me levava de volta à praia e para a costa à nossa direita. Chegamos em um local com alguns decks e casas e decidi parar, não conseguia continuar remando assim. Eu era como uma pipa no mar. Faz sentido? Paramos e decidimos remar até as casas mais à frente, com a esperança de ter algum restaurante onde ao menos pudéssemos almoçar enquanto esperávamos o vento diminuir. Tentei ir e voltei…eh…não dava…Então destrocamos a prancha e remar a prancha menor me permitiu retomar nosso caminho. Infelizmente para nos frustrarmos com a falta de um local para comer… o jeito seria chegar de volta no nosso camping mesmo.
Faltavam umas 2h para o horário do restaurante fechar e isso nos fez questionar se ficaríamos sem almoço naquele dia. Bem, pensar nisso fez com que tivéssemos uma motivação para remar com, digamos, mais afinco. Rema…rema…rema…rema…rema…parar não era uma opção, pois era como voltar três casas, digo, remadas. O vento começou a aliviar e a remada a progredir melhor. Rema…rema…rema. Chegamos finalmente na praia do Cruzeiro com tempo de sobra para o almoço, então deu tempo de um mergulho na praia antes. Aquele PF teve o tempero a mais do esforço da remada focada nele, e devo dizer estava caprichado. Entre prosa, trovões e chuva terminou o nosso segundo dia.
Apesar da chuva na noite anterior a manhã estava com o tempo aberto. Saímos do camping próximo das 6h da manhã para fazer nosso caminho de volta à praia de Paraty Mirim. O mar calmo e o tempo fresco fizeram com que a remada fosse muito tranquila, em que admirávamos a luz do sol ainda tímido no reflexo da água. Mesmo a saída do saco do Mamanguá para a enseada foi bem amena, apesar do aumento das ondulações por ali. Remamos até uma pequena praia na entrada do Saco Fundo, onde conversamos com uma família e ficamos um pouco. Dali logo chegamos na Praia de Paraty Mirim, com uma boa movimentação por volta de 12h. No estacionamento arrumamos tudo no carro e tomamos uma ducha para tirar o sal. Pegamos a estrada no sentido Rio de Janeiro, fazendo a nossa parada em Mangaratiba para a devolução do SUP. Chegamos no Rio no final da tarde, a tempo para uma almoço tardio. Afinal, brasileiro gosta de comida, ainda mais depois de remar quase 27km de SUP. Aqui em casa tinha aquele feijão caprichado!
Lívia Silvia Cardoso – 21 a 23 de abril de 2023