FEMERJ – Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro
Departamento de Meio Ambiente

RECOMENDAÇÕES PARA RECUPERAÇÃO DE TRILHAS

A conservação de trilhas visa preservar um dos elementos básicos do montanhismo – a integridade da própria trilha, e também minimizar os impactos que possam eventualmente ocorrer sobre o ambiente natural, com o surgimento de pontos localizados de erosão e degradação da vegetação às margens da trilha. Embora os benefícios da recuperação sejam evidentes podem ocorrer, como em toda ação, impactos negativos, nem sempre previstos durante a concepção da intervenção. Com o objetivo de reduzir o risco da ocorrência destes problemas, são indicadas algumas recomendações em caráter geral.

1) Deve-se interferir o mínimo possível no ambiente natural, ou seja, realizar apenas as intervenções estritamente necessárias para atender à demanda de recuperação, e sempre de forma discreta e harmoniosa com o entorno.

2) Privilegiar ações reversíveis, com o objetivo de reduzir os riscos das ações promovidas, facilitando correções e ajustes futuros, caso for necessário. Evite escavar na rocha, construir obras pesadas de alvenaria e o uso de cores berrantes.

3) As intervenções propostas, sempre que possível, devem ser documentadas num projeto – ou pelo menos num croqui e posteriormente atualizado quando as intervenções forem executadas (‘as built’). A documentação facilita a comunicação com outros atores sociais envolvidos ou com interface com o projeto; auxilia no processo de manutenção e; serve de memória técnica para auxiliar outros projetos de recuperação, consolidando e difundindo conhecimentos sobre o mesmo tema.

4) Ao planejar intervenções significativas em uma trilha, deve-se procurar alinhar as expectativas do projeto com a comunidade montanhista local e junto às organizações públicas que possuem alguma gerência sobre a área. Esta participação visa buscar soluções convergentes reduzindo assim os riscos de ações equivocadas e/ou a má compreensão das intervenções realizadas.

5) Como linha de orientação básica, as intervenções propostas devem procurar manter o grau de exigência (dificuldade) natural da trilha, ou seja, devem ser feitas primeiro para reduzir o processo de degradação à qual foi submetida. A facilitação de visitação deve ser restrita aos casos em que esta funciona como uma alternativa de proteção do ambiente natural, evitando situações como: a abertura de atalhos e/ou alargamento, comuns em trilhas intensamente visitadas.

6) A sinalização deve se restringir às trilhas consideradas ‘populares’, isto é, muito visitadas com a intenção de evitar sobrecarga em outras de menor frequência, principalmente às de acesso exclusivo às vias de escalada.

7) Na elaboração do projeto de recuperação deve-se procurar analisar os possíveis impactos negativos diretos e indiretos das intervenções propostas, reduzindo o risco de ocorrência de problemas decorrentes tais como: surgimento de novos pontos de erosão ocasionados pelo desvio de drenagem de trilhas; escolhas de alternativas de traçado em ambientes mais frágeis e; aumentar o número de acidentes com a implantação de equipamentos que passem uma falsa sensação de segurança aos caminhantes menos experientes, como é o caso de transformar trechos de escaladas ou caminhadas íngremes e/ou com trechos de pedras em vias ‘ferratas’ – com a instalação de cabos de aço, escadas de ferro ou pegadores.

8) Procurar não eliminar trechos de escaladas com a colocação pesada de ferragens tais como: cabo de aços, escadas de ferro, pegadores (alças de vergalhão). Algumas trilhas apresentam trechos de escalada técnica, onde uma passagem com segurança requer equipamentos tradicionais de escalada, como: cordas, ‘bouldrier’ (cadeirinha), mosquetões, entre outros. A presença destes trechos pode induzir à colocação de equipamentos típicos de via ‘ferrata’, com o objetivo de facilitar a passagem destes trechos. A utilização pesada de ferragens como equipamento de proteção foi uma característica do montanhismo brasileiro durante a década de 50. Contudo, a evolução da técnica e equipamentos da escalada fez com que este estilo fosse gradualmente abandonado, inclusive com algumas vias ‘ferratas’ desequipadas. Este quadro já consolidado foi reforçado nos últimos anos pelas práticas de montanhismo de mínimo impacto. Assim, dois pontos devem considerados na colocação pesada de ferragens para eliminar lances de escalada em trilhas: (i) a possibilidade de descaracterização de uma trilha que historicamente vem sendo realizada nestas condições e; (ii) estes equipamentos facilitarem a subida de pessoas despreparadas acarretando acidentes, por vezes fatais. É oportuno lembrar que uma via ‘ferrata’ no Pão de Açúcar, o CEPI, é a que apresentou maior número de acidentes fatais com larga margem de vantagem para as demais no Estado do Rio de janeiro. Por este motivo, deve-se evitar equipar com ferragens trechos de escalada tradicionalmente feitos em livre. A utilização de ferragens deve restringir-se aos trechos de caminhadas com as seguintes características: (i) aumento da dificuldade e do risco em caso de alterações na trilha ocasionada por erosão, deslizamentos ou outros movimentos de terra e; (ii) em trechos muito íngremes, como forma de proteger a vegetação que vem sendo usada como apoio e que esteja claramente comprometida.

9) Antes de iniciar algum trabalho de manutenção em qualquer ambiente, procure informar-se com órgão gestor da área, com as entidades de montanhismo ou ong’s que possam eventualmente já estar atuando no local para que haja sinergismo de ações. Muitas vezes ações de recuperação ou conservação de trilhas ou de uma área natural não são evidentes, embora esta possa já estar sendo trabalhada há algum tempo por pessoas, entidades ou mesmo instituições de pesquisa.