Por Erick Eas
Fazia muito tempo que desejávamos voltar ao pico da Pedra Branca, a montanha mais alta da cidade do Rio de janeiro, com 1025 m de altitude… Na primeira vez que fui, a muitos anos atrás, me lembro que vi Araucárias e Pinheiros, algo que jamais imaginaria que teríamos na cidade maravilhosa de forma natural.
O Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB) é simplesmente uma das maiores florestas urbanas do mundo, maior que a Floresta da Tijuca, com 124 km quadrados de extensão, é um colosso onde você sente estar fora da cidade, como tendo viajado para uma floresta distante, mas é aqui mesmo, perto de onde moramos… A sua história envolve vários séculos da própria história do Brasil possuindo inúmeros rios, quilombos, ruínas, igrejas antigas, cavernas e grutas, muitas cachoeiras e montanhas, além de algumas pedras espetaculares para escalada, trilhas e descobertas. Há muitas trilhas, inclusive a Trilha Transcarioca o corta por toda sua extensão.
Ali residem árvores gigantescas e centenárias, talvez as maiores que ainda existem no Rio de Janeiro… há exemplares raros de Pau-Brasil (Caesalpinia echinata), Copaíba, Jacarandá-da-Bahia e Figueira Vermelha ainda preservados no coração dessa floresta em estado avançado de regeneração, pois nos séculos passados, durante os ciclos do café e cana-de-açúcar, sofreu muito com a sua devastação, inclusive por carvoarias que produziam carvão com suas árvores.
A fauna do PEPB é vasta havendo quase 500 espécies registradas e mais da metade de todas as espécies de aves existentes no Estado do Rio se encontram ali. Existem dezenas de espécies de mamíferos incluindo vários com ameaça de extinção, pois são objeto da cobiça de caçadores, infelizmente.
Então, visitar a montanha mais alta do Rio de Janeiro no maciço da Pedra Branca era quase uma necessidade para se sentir mais perto da natureza vivendo numa metrópole extremamente conturbada e açoitada pela ação desmedida do homem.
O PEPB esteve nas manchetes dos jornais recentemente pelas notícias de uma tromba d’água em um dos seus rios e que inundou várias regiões de Jacarepaguá e da Zona Oeste da cidade…
Planejamos ir no sábado 07/03/20 numa prancheta aberta pela Miriam mas ainda haviam dúvidas de como estaria o estado do parque depois dessas chuvas poderosas que caíram por lá. Com tudo confirmado e favorável, formamos um grupo de 13 caminhantes membros do CERJ – Antoine, Carla, Carrasqueira, Daniel, Erick, Fernando, Hércules, Jandira, Miriam, Mônica, Rafael, Raquel e Solange – e fomos em três carros para a portaria principal na estrada do Pau da Fome.
Ali encontramos outros amigos do CEB que estavam numa atividade preparatória do Curso Básico de Caminhada, todos com destino ao pico pois desta vez só o cume interessava a todos.
Começamos a trilha as 8:35 numa área da floresta que não tinha sofrido pelas recentes chuvas, pelo menos aparentemente, mas que aquelas águas lhes tinham dado uma cor e uma exuberância brilhante num verde com V maiúsculo de VIDA. Aos 900 m de trilha chegamos ao Rio da Pedra Branca, mais cheio que nas vezes anteriores e o atravessamos pelas pedras, e a partir de ali a trilha começaria uma subida um pouco mais intensa…
No caminho passamos pela bifurcação para cachoeira (aos 2,3km) que seria a nossa parada final ao voltar. Depois 2 horas e 5,1 km de trilha chegamos na Casa Amarela aos 648 m de altitude, um pouco mais da metade do caminho. Ali também começa outra trilha que vai para o Vale do Gunza, Rio da Divisa e o Quilombo da Astrogilda, um lugar sensacional. Momento de descanso, lanche e de recarregar as energias para ir até o cume. Todos caminhando bem, alguns mais à frente, alguns atrás, e de tempos em tempos reuníamos a fila indiana.
Após a bifurcação que vai para o Rio da Prata, subindo à direita dela na trilha para o pico a vegetação muda pois entramos num vale mais exuberante, passamos vários riachos que irão formar o rio da Pedra Branca, e circundamos a montanha do pico, para subir por trás dela… Pelo mapa parece um pouco ilógico ter de caminhar 3x mais para subir por trás mas era o caminho pela crista, menos íngreme, e fomos por ele. Na subida final a vegetação volta mudar aparecendo bambuzais com espinhos e a trilha fica um pouco mais fechada. Encontramos um pinhão caído, sinal que estamos chegando ao final e, no cume, e encontramos nossos amigos do CEB que tinham partido uma hora antes da gente, abraços pra lá e pra cá, meta alcançada.
Eram 12:30, 4 horas após o início da trilha, estava lá aquela enorme pedra como que colocada propositalmente para simbolizar o ponto mais alto do Rio de Janeiro, com um totem (ou obelisco?) construído sobre ela e mais uma barra de metal (sic) que na mesma hora me lembrou um para-raios, mas claro que não era isso.
Pensávamos subir com uma pequeno cordelete que levei porque subir a pedra sem sapatilha é um desafio mas, pasmem, agora havia uma escada improvisada com bambus, a aventura final de mini-escalada na pedra não seria mais preciso….
Mas, dois amigos – o Rafael e o Daniel – mostraram que são mesmo bons escaladores e subiram nela com habilidade e força e o resto do grupo, inclusive eu, que não conseguiu subir a pedra sem sapatilha, fomos pela escadinha (ops) para tirar a foto de recordação no cume…
Havia tanta gente aglomerada naquele cume sobre a pedra com todos entrelaçados se segurando entre si que pensei se isso não fosse uma pedra já tinha desabado mas também pensei comigo que se um cair todos caem pois estávamos tão unidos em cima daquele monólito estreito… E fizemos a foto de recordação da conquista grupal do cume da pedra D’Água! Afinal, para montanhistas só o cume interessa! Mas, ficou a pergunta sem resposta: será que já subiram ali 13 ao mesmo tempo?…
Depois da festa e do lanche chegou a hora verdade, temos de descer… e tomar um banho de cachoeira, claro. Eram 13:15 e a descida foi tranquila e rápida em pouco tempo, as 14:33 estávamos na Casa Amarela novamente e às 15:47 chegamos da bifurcação para descer nda cachoeira do Rio da Pedra Branca, onde seria o nosso batismo de despedida nas águas deliciosas que corriam do maciço da Pedra Branca.
O grupo ficou em dúvida se daria tempo de ir tomar um banho e voltar antes de escurecer e como eu e outros queriam muito conhecê-la, pois nas duas vezes anteriores não deu tempo de descer nela, eu disse: são só 50m gente, é perto, e todos fomos…. Depois de caminhar quase 100 m a cachoeira não aparecia, eu escuto uma voz alta ao longe dizendo “Erick você não disse que eram só 50 metros?” Era mesmo, mas de ALTITUDE, quase 50 m para descer e mas de trilha era só um pouco mais de 100m…
Minutos depois chegávamos ao leito do rio da Pedra Branca e lá estava ela uma cachoeira tripla de uns 8 metros com um pequeno laguinho em frente caindo muita água. Esforço recompensado!! A queda maior era tão forte que era como uma pancada no corpo, a intermediária era uma massagem daquelas que você faz de vez em quando e a mais leve era para relaxar… Um pouco mais acima havia uma outra cachoeira mais suave e familiar, mais larga e menor altitude, onde vimos uma família com crianças se divertindo. Tudo isso somente a pouco mais de 2 Km da entrada do parque.
Meia hora depois iniciamos a descida com a alma lavada pelas águas da pedra Branca indo até os carros onde havia um bar nos esperando com uma cerveja gelada e o fim de trilha. Eram 17:35. Foi um sábado sensacional. Valeu família CERJ! Valeu Miriam e Carrasqueira, nossa guia e nosso protetor!