A Passagem da Neblina é o caminho que mais gosto na Serra dos Órgãos e tenho um motivo muito especial. Foi a minha primeira excursão fora do Rio de Janeiro pelo clube, e que a partir de então transformou a minha vida. Sempre que leio relatos de uma excursão para lá, muitos boas lembranças voltam para a minha memória.

Final de julho de 1964. Estava na casa de vizinhos e lá também estava o Alfredo Jakubowsky, guia do clube. Ele era amigo de minhas irmãs e me fez um convite para fazer uma excursão de dois dias na Serra dos Órgãos. Esta excursão aconteceu nos dias 29 e 30 de julho de 1964. Desde criança eu conhecia a Serra dos Órgãos apenas de ver de longe, já que até o início dos anos 50 morei no Alto em Teresópolis, perto da Granja Comari, e frequentava a piscina na sede do Parque.
Meu equipo de excursão era uma mochila daquelas de escoteiro que consegui emprestado, com um cobertor enrolado por fora, uma agasalho que não passava de algo parecido hoje em dia com um moletom, uma lata de leite condensado, alguns biscoitos e quase nada mais.
Chegamos, um grupo de seis ou sete pessoas, no Abrigo 2 já anoitecendo e nos acomodamos para pernoitar. Como todos sabem o abrigo 2 não existe mais e ficava no local onde começa a trilha para o Nariz do Frade, e consequentemente o final da descida da Passagem da Neblina.
À noite ouvimos vozes no lado de fora do Abrigo e então eu me deparei com uma cena que ficou marcada para sempre na minha memória. Era um grupo de cinco homens fortes com mochilas imensas para a minha realidade, e mais um saco de materiais de conquista que segundo eles pesaria uns cinquenta quilos contendo barracas, grampos, cordas, marretas, cunhas e etc. Haviam desistido da conquista da Chaminé da Amizade, que fica na parede do São João no lado voltado para a Agulha do Diabo, devido a muitas pedras soltas que tornavam a continuação da empreitada muito arriscada e perigosa. Fiquei muito impressionado. Na minha imaginação pensei assim: – Estes é que são escaladores? Isto é que é ser escalador? Eu que havia acabado de entrar para o clube e estava animado em escalar fiquei bem desanimado pensando comigo mesmo: – Nunca vou ter condições de escalar com estes caras. Eram: Giuseppe Pellegrine, Carlos Alberto Carrozzino, Gino de Barros, José Luiz Barbosa da Silva e Etzel von Stockert.
Mas a realidade foi diferente. Aos poucos fui me envolvendo e todos se tornaram para sempre meus amigos e parceiros de montanha.
Reynaldo