Relato de um fim de semana maravilhoso
Tudo começou no aniversário da Miriam, quando nossa queridíssima guia abriu mais uma das suas sensacionais pranchetas, com uns 30 inscritos. A proposta era ir aos Portais de Hércules e voltar no mesmo dia. Dos participantes, segundo apurei, pouco mais da metade concluiu a meta. Eu e uns outros tantos só chegamos ao Açu. Eu, com certeza, porque não tenho fôlego para andar na velocidade requerida. Outros, queridos amigos, como o Henrique e a Márcia Aranha, por mera solidariedade e espírito de companheirismo, desses que a gente encontra bastante nas montanhas, mas com bem menos frequência fora delas.
Nesse dia nasceu-me um desejo enorme de ir aos Portais e imaginei que se dormisse no Açu uma noite, no dia seguinte conseguiria ir de manhã sem mochila e descer na sequência.
Minha sugestão foi imediatamente aceita pela Márcia e pelo Henrique, que se propôs a guiar a excursão, levando o filho.
Marcamos a data para o primeiro final de semana após minha viagem de agosto e mais tarde descobrimos que seria noite de lua cheia. Lobisomem no Açu! Conspiração a favor!!
Rapidamente, várias pessoas com quem comentamos a ideia aderiram à excursão, de forma que antes que pudéssemos divulgar pela cerjlist os ingressos para pernoite no PARNASO estavam esgotados. Com certeza por causa da lua cheia.
Assim, partimos 10 excursionistas no sábado, 29, rumo ao Açu: eu, Henrique e filho – Carlos, Sol, Márcia Aranha, Claudia Eloy e filha – Clara, Rosane (do Light), Edson e Dayse (casal amigo da Márcia).
Começamos a caminhar às 10:30h, lentamente, com cargueiras pesadas, almoçamos tipo 12:30h no Queijo e às 16:30h chegamos ao Açu. O dia estava fresco e nublado, amenizando o esforço da subida, mas à medida em que íamos nos aproximando do cume, o tempo ia abrindo, de maneira que ao chegarmos percebemos que havíamos deixado embaixo um tapete nuvens. Chegáramos ao céu, azul! Êta sensação boa!
Foi o tempo de arrumarmos as coisas nas barracas e alguém gritou: “Olha a lua!”. Vinha nascendo enorme, amarelona, naquela hora em que o crepúsculo deixa tudo com um jeito mágico, nem dia, nem noite, atmosfera de sonho! Espetáculo inenarrável!
Infelizmente para mim, nesse momento uma dorzinha de cabeça chata se agravou e avisei para os amigos que precisava tomar meu inseparável remédio para enxaqueca e deitar um pouco. Bem, nessa noite não levantei mais… a sopinha quente e o gostoso macarrão foram ao meu encontro na barraca, nas asas de anjos, e, apesar do incômodo da dor, me senti uma felizarda por poder ficar confortavelmente deitadinha, abrigada do frio, enquanto meus guerreiros amigos preparavam o jantar e cuidavam de mim!
A galera passeou e aproveitou o lindo luar, embora o frio tenha rapidamente também afugentado alguns.
No dia seguinte, ouvi o Henrique me perguntando de fora da barraca: “Mônica, está viva?”. Procurei me certificar e descobri que, sim, estava viva e muito bem disposta! Fomos alguns de nós esperar o sol nascer, ainda com a lua linda e brilhante, agora do outro lado do céu. Outro espetáculo que só quem participa consegue entender! Emocionante!
Depois disso, anunciei para a galera que iria abortar os Portais e aproveitar o tempo para descansar, com medo de não dar conta da descida com cargueira – a dor de cabeça da véspera havia me assustado! Não tenho nenhum compromisso com cumprir metas, nem superar desafios; para mim, já havia recompensa de sobra na programação.
Nossa querida Sol, com a doçura e serenidade que a caracterizam, tentou me dissuadir da decisão, com argumentos sensatos e carinhosos. Mas foi Claudia Eloy quem me deu o ultimatum: “O quê????? Como assim não vai???? Vc inventou isso tudo, botou pilha em todo mundo, para agora amarelar?? Nem morta!!!! Vai, sim, senhora!!!!!!”
Então tá, né?
Partimos, então, às 8:20h, rumo aos Portais de Hércules e chegamos a esse lugar incrivelmente belo exatamente 1 hora e meia depois. A trilha estava razoavelmente bem demarcada, com tótens e setas chumbadas nos costões, e nosso guia ainda tomou o cuidado de sinalizar com papel (higiênico, limpo e recuperável!) os locais que poderiam gerar dúvidas na volta.
Os Portais têm o duplo efeito de nos mostrar como pode existir tanta beleza, tanta grandiosidade no mundo e, ao mesmo tempo, como somos pequenos e insignificantes. Chega a dar arrepios e lágrimas nos olhos! Ainda bem que os amigos não me deixaram perder esse espetáculo!
Depois de curtirmos bastante a vista e o local, voltamos ao Açu, em 1 hora e 40m, para arrumarmos as cargueiras e descer. Começamos a descida às 13h, chegando à portaria do PARNASO pouquindo depois das 17:30h, ainda com dia claro. Felizes, cansados, quebrados, enebriados, eufóricos, enfim, como montanhistas que acabaram de fazer algo cansativo, mas infinitamente recompensador!
Cheguei a comentar com alguns, como é possível que tantas pessoas vivam toda uma vida sem saber o que significa a sequência Queijo, Ajax e Isabeloca!! Inacreditável!
Bem, amigos, me desculpem se o relato saiu grande demais e sobretudo me desculpem por descaradamente caracterizar os melhores momentos como indescritíveis. É que, como nos ensinam os Portais de Hércules, somos pequenos, incompletos e insuficientes frente as belezas que a natureza nos apresenta.
E não poderia terminar esse relato sem comentar como é gratificante estar na companhia de pessoas maravilhosas como os solícitos jovens Carlos e Clara, o simpatissíssimo casal Edson e Dayse e agradecer aos queridos amigos Henrique, Márcia, Sol, Claudia e Rosane pela companhia, pela força, pelo cuidado e, sobretudo, por serem meus amigos!!
Bjs, Mônica