33 anos se passaram e eu ainda não havia conhecido a Ilha Grande. Melhor momento para conhecer esse pedaço do paraíso não havia ainda existido na minha vida. E quando eu falo que a ilha é um pedaço do paraíso, espero que o leitor entenda, compreenda e aceite a total falta de exagero desta afirmação. A Ilha Grande é um pedaço do Paraíso que foi especialmente desenhado por Deus, caso ele exista. Veja bem, um lugar como este precisa de mais que o acaso para acontecer, o melhor dos arquitetos do universo, neste caso Deus, deve ter perdido (ou ganho, na minha humana opinião) algumas horas planejando cada detalhe do lugar. As águas cristalinas, que invadem a areia fina e branca da ilha, os manguezais que se esparramam em direção ao mar azul, a paz em canção dos pássaros, a simpatia dos moradores, os peixes e crustáceos pincelam essa tela e a tornam inesquecível.

Saímos em viagem Paulão, Jessika, Barreto e eu (Claudia). Quatro amigos, montanhistas indo à praia. Era feriado de 15 de novembro de 2019 e, contra todas as previsões de chuva torrencial, íamos em direção à Angra, que é dos Reis! Quem conhece, bem sabe que lá chove  mais que em qualquer lugar do Rio de Janeiro, mas fizemos algumas feitiçarias para fazer o Sol nascer com força nos dias em que estaríamos por lá, sabíamos que daria tudo certo.

Chegamos à Angra não lembro que horas e, como o mar estava muito agitado demais, tivemos bastante sorte e pegamos talvez o último barco do dia em direção à ilha. Nosso plano era ir até Provetá e de lá fazermos a trilha até a praia do Aventureiro. Nos disseram que a trilha era tranquila, que normalmente os turistas a completam em 1 hora e meia, um morador nos disse que fazia em 1 hora, por isso decidimos arriscar.

A viagem foi tranquila, até entrarmos em alto mar. Nunca vi um barquinho sacudir tanto, em um momento pensei que tinha mais água do mar dentro do barco do que no mar em si. Mas, nós montanhistas experientes, estávamos confortavelmente abrigados dentro dos nossos anoraques, completamente molhados, diga-se de passagem. Quando o barco chegou em Provetá, nós desembarcamos e para minha surpresa eu vi que havia esquecido a capa de chuva da mochila. Sem problemas, improvisamos com um saco plástico gigante e seguimos para a trilha.

No caminho paramos em uma padaria e o dono, nascido e criado na ilha, foi quem nos informou que a percorria em 1hora. Pensamos, inocentes, que se aquele senhor, cuja pele do rosto castigado pelo Sol mostrava não menos que uns 60 anos, fazia em 1 hora sem chuva, nós, jovens, valentes, fortes e condicionados levaríamos no máximo 1h30.

Somos muito ingênuos mesmo! A trilha foi linda, mas extremamente escorregadia. E, devo dizer que cometemos 1 erro terrível antes da viagem. O responsável pelas compras foi nosso querido Paulo, o melhor cozinheiro do mundo, mas o mais exagerado também. Paulão levou não menos do que uns 5 kg de batatas, eu disse BATATAS, tem alguma coisa mais pesada que batatas? Levou ainda 30 ovos! Imaginem a seguinte cena, Paulão deve ter quase 1,90 m de altura, estava inteiro molhado, carregando uma sacola de mercado com 5 kg de batatas e outra com outras coisas, dentre elas, 30 ovos! Se ele caiu naquele lamaçal que chamamos de trilha? Claro! Só sei que estamos no final de março de 2020 e até agora não conseguimos entender como ele caiu tantas vezes na trilha e não quebrou um ovo sequer!  A cada 5 metros ele experimentava uma queda, se foi engraçado? Claro que foi!

Enfim chegamos à praia do Aventureiro. Já no final do dia e pasmem, assim que acabamos a trilha a chuva parou. Chegamos ao camping da Larissa, pedimos uma cerveja, relaxamos um pouco e montamos as barracas. Os 5kg de batatas? Estavam destinado ao primeiro dos muitos quitutes que desfrutaríamos naquele final de semana. O menu do nosso jantar seria caldo verde. Comemos bem, bebemos bem, conversamos e fomos dormir, cansados e felizes, ouvindo o barulho do mar.

Sábado acordamos cedo para aproveitar o dia. Fomos até o coqueiro solitário, ficamos na praia, aproveitamos a forma como o tempo lá parece mesmo passar de forma mais calma. Alguém afrouxou os ponteiros do relógio e nós agradecemos extasiados com tanta beleza. Encontramos com a Lívia um pouco antes do almoço, ela foi para lá com algumas amigas do trabalho e sinceramente o relato sobre o mar agitado foi praticamente o mesmo que o nosso, com a diferença que as meninas chegaram infinitamente mais molhadas que a gente porque não estão acostumadas aos nossos divertidos perrengues.

Passamos um sábado preguiçoso, fracassamos miseravelmente no jogo de altinha, curtimos o mar que estava uma delícia, jogamos cartas e conversa fora… Depois de passarmos umas 12 horas falando ainda não eram nem três da tarde. Fato que o tempo passava diferente naquele lugar.

O nosso querido Paulão, mestre cuca do grupo, teve a ideia de comprar um peixe para assarmos em folha de bananeira no final do dia. Então, enquanto Jessika, Lívia e eu nos entretínhamos com os mais variados temas, como por exemplo a conexão cósmica entre o sentido eutético da vida e o pôr do Sol no zênite na primavera de um ano bissexto, ou algo assim, os rapazes foram atrás do peixe. Voltaram dizendo que no final da tarde chegaria o barco com os peixes e só teríamos que ir buscar e colocar a mão na massa.

Barreto descobriu algo lindo! A igreja que fica em frente à praia do Aventureiro reverbera o barulho do mar e óbvio que ficamos os 4 ouvindo aquele som único durante alguns instantes, enquanto o Sol se punha.

O Sol se pôs e ingênuos seguimos novamente. Descobrimos que o nosso peixe foi rapidamente vendido aos demais aventureiros da praia. Nosso jantar gourmet teria ido por água abaixo? Claro que não! Vocês lembram das batatas do caldo verde? Claro que não usamos tudo. Sobraram uns 3 kg de batatas e bastante calabresa… o que fizemos? Batatas portuguesas, com alecrim, calabresas fritas e omeletes com queijo gruyére. Ficou incrível!

Após jantarmos maravilhosamente bem fomos para praia, pois soubemos que iria acontecer um luau com fogueira. Quando chegamos, lá estava, o nosso peixe assando naquela fogueira! Tudo bem, a esta altura estávamos super bem alimentados e até achamos engraçado ver o peixe ali assando pro pessoal que estava tocando, bebendo e rindo demais com a gente.

A madrugada adentrou e aos poucos fomos nos recolhendo, a ideia era ver o nascer do Sol e aproveitar o espetáculo. E que espetáculo!

A praia do Aventureiro é assim como um pedacinho de qualquer coisa que provavelmente se assemelha ao divino. Um lugar que te sintoniza, que traz cada célula do corpo para uma afinação linda e doce com a natureza.

A viagem foi isso, conversamos muito sobre coisas importantes, sobre como gostaríamos de estar mais conectados com a Terra, fazendo o bem de alguma forma, trazendo boas energias, cuidando de nós mesmos e das outras pessoas. Foram 3 dias em que tivemos a oportunidade de dar boas risadas, de falar sobre nossas alegrias, sobre o quanto estávamos gratos por simplesmente estarmos lá, juntos! No domingo voltamos e como um último presente, como prova de que aquele havia sido um final de semana inesquecível, logo após um de nós comentar que para fecharmos o final de semana com chave de ouro faltava somente 1 coisa. E a coisa aconteceu! Como em uma mágica eles apareceram! Dezenas de golfinhos apareceram nos dizendo “até logo” ao paraíso, voltamos para selva de pedra.

Claudia Diniz