Escalada de aventura na via “Emílio Comici” – 3⁰ V (A1) E2 D2, no Irmão Menor de Jacarepaguá, em 01/09/2024
Ontem foi dia de conhecer uma das vias clássicas do CERJ, a Emílio Comici, uma via de 245 metros conquistada em 1967 por Salomyth e Minchetti, no morro Irmão Menor de Jacarepaguá.
Mas para falar dessa escalada precisamos voltar um pouco no tempo, quando Xandão, Igor e eu (Junior) passamos cerca de 4 horas tentando achar a base da via. Fomos até a base do Irmão Menor em 7 de Julho e achamos várias vias, mas nenhuma se parecia com a Emílio Comici que estávamos vendo no Croqui. Ligamos para o Carrô em algumas oportunidades e mesmo assim nos demos por vencidos e voltamos sem achar a base. Um tempo depois, o Xandão voltou lá com o Carrô e aí sim conseguiram encontrar a base da via, que foi uma das que achamos no dia que fomos (a penúltima tentativa, na verdade). Então, agora que saberíamos chegar à base, foi o momento de marcarmos novamente a investida, que aconteceu ontem, em 1 de Setembro de 2024.
Iniciamos a caminhada e chegamos na base por volta das 7:30. Nós nos equipamos rapidamente e partimos para a escalada, com Xandão pegando a primeira enfiada e Igor dando segurança, enquanto eu desenhava o croqui. À primeira vista, a via (que não era repetida desde 2017, por um grupo do CEC, segundo relatos que ouvimos), estava muito suja. E realmente estava. A primeira enfiada é uma mistura de lances de aderência e agarras, possui uma fenda para entalamento de dedos, uma passagem em horizontal e depois algumas diagonais. Realmente uma junção de estilos de escalada, já dando um aperitivo do que viria pela frente. Paramos em uma parada dupla que depois descobrimos ser apenas para o rapel. Um pouco mais acima havia outra dupla e paramos novamente.
Xandão na primeira enfiada
Após essa dupla veio o lance em horizontal até chegar em uma dupla antes do crux da via, que é um lance de fenda que e pode proteger com nuts (foi usado apenas um de número #4 da Alpen Pass). É um lance difícil (V ou Vsup, se feito em livre), que pode ser artificializado (e foi!). Como levamos estribo e fitas longas, conseguimos laçar os grampos de cima e usar o estribo para ganhar elevação. Xandão tocou essa parte e eu dei seg, tendo o Igor a responsabilidade de registrar tudo em ótimas fotos e desenhar o croqui.
Xandão no crux enquanto eu (Junior) dava segurança
A próxima enfiada (já nem sei mais se é a terceira ou quarta, pois paramos várias vezes), foi guiada pelo Igor e conta com uma barriguinha difícil de vencer, ainda mais estando tudo sujo, mas que ele conseguiu passar não sei nem como (hahaha). A escalada vai seguindo por uma diagonal à esquerda até chegar em uma base muito desconfortável, com uma árvore espinhenta. Nos agrupamos novamente nesta parada. Vale destacar que esse era um dos trechos mais sujos da via, com grandes lacas de terra meio ressecada e musgo ao longo do caminho.
Na enfiada seguinte, Xandão guiou e costurou um grampo totalmente fora da via, o que causou um arrasto gigante e desnecessário. Antes de fazer um lance bem delicado de aderência, ele se prendeu e me puxou até o grampo seguinte ao grampo fora da via. Dei seg dali e ele passou do lance de aderência, chegando até um local em que ele montou uma parada em móveis, pois não achou grampo nenhum. Depois me puxou e eu puxei o Igor. E aí nós nos agrupamos novamente.
Parada em móveis
Igor chegou empolgado e já quis iniciar a próxima sequência, que era um trepa mato em horizontal até a chaminé. No meio deste trepa mato havia a tal da parada dupla que não tinha sido encontrada antes. Chegamos os três no pé da chaminé, quando vimos que havia uma árvore no meio dela.
Xandão iniciou a chaminé e deixou a mochila em sua base. No final da chaminé, ele viu que uma rocha média estava solta e podendo rolar para baixo. Ele fez o final da chaminé sem encostar na rocha e tivemos que sair da posição confortável de espera para nos afastar do possível caminho que a rocha faria caso se desprendesse lá de cima. Ele demorou muito até chegar numa dupla e finalizar a enfiada. E depois que chegou e gritou o “tô na minha”, calcei as sapatilhas e fiquei aguardando o comando “tá na minha” para eu subir. Só que este comando demorou muito e comecei a ficar muito cansado, com os pés muito machucados. Afinal, já passavam de 14 horas e não tínhamos comido nada. E a água estava quase acabando. Fora a exposição ao sol, que estava muito intenso naquele dia. Enfim, Xandão deu o comando e comecei a subir. A cada 5 metros que eu progredia, puxava a mochila dele para perto de mim. Depois da chaminé, ainda havia um trecho com algumas lacas para subirmos em oposição. Fiz os lances e cheguei até ele, já muito exausto. Igor veio em seguida com o Xandão o puxando enquanto eu atualizava o croqui. Como o Igor veio por último, ele ficou responsável por derrubar a pedra que estava solta, a fim de prevenir que alguma cordada futura se machucasse. Com dois empurrões, ele derrubou a pedra, que tombou na parte final da chaminé e ficou entalada. Ele ainda subiu nela e pulou algumas vezes para ver se ela estava mesmo firme, daí prosseguiu a escalada. Recomenda-se, de qualquer forma, que uma próxima cordada fique atenta a esse lance a fim de evitar potenciais acidentes.
Este era o grampo em pior estado da via inteira (logo após a chaminé). Todos os outros estão em excelentes condições.
Xandão, Igor e eu (Junior) na parada pós chaminé
Como Igor chegou mais inteiro, ele tocou a última enfiada, que era uma sequência em aderência com pequenas agarras, em diagonal. Ele chegou até um grampo simples em cima de um platô. De lá, nos puxou e nos agrupamos novamente. Avaliamos subir o trepa mato até o cume, mas como eram quase 16h, resolvemos encerrar por ali, no fim da via de escalada. Chegamos ao fim da via, mas não ao fim da aventura. Tiramos algumas fotos, fizemos nossos registros e logo descemos até uma parada dupla que havia mais abaixo para iniciar os rapéis, que o Igor não havia visto na hora da subida.
Xandão, Igor e eu (Junior) no último grampo da via (CHEGAMOS!!!)
Como estávamos com duas cordas, resolvemos emendar as cordas para diminuir a quantidade de rapéis. Descemos até o ponto onde Xandão havia feito uma parada em móveis, mas nos ancoramos na parada dupla que havia no meio do trepa mato. O problema foi que para puxar a corda sofremos muito. O nó simplesmente agarrava em tudo! Puxei meu cordelete e fiz um prussik na corda para usar a força da minha perna para puxá-la. Mas isso também era muito cansativo. No final, Xandão e eu conseguimos puxar a corda (ufa!) e iniciamos o segundo rapel, novamente com duas cordas (péssima escolha).
Eu (Junior) revisando o croqui antes de iniciarmos os rapéis. Depois de 7 anos sem uma repetição, até onde se sabe, o CERJ volta a escalar a Emílio Comici, via clássica do Rio de Janeiro.
Chegamos até a parada dupla que fica em um confortável platô, logo acima do crux, e começamos a puxar a corda de novo. E mais uma vez ela travou em tudo que existia. Dessa vez deu muito mais trabalho e tivemos que usar o prussik muito mais vezes. Finalmente conseguimos puxar a corda e montamos o último rapel, que foi o mais tranquilo, chegando até a base. Certamente teria sido muito melhor fazer 6 rapéis de 30 metros.
Chegamos na base por volta das 17:40 e apenas enrolamos a corda e partimos para trilha, para aproveitarmos o restinho de luz do dia. Finalmente chegamos no carro por volta das 18:20, exaustos e realizados.
Eu (Junior), Igor e Xandão na base às 17:40
Meus amigos Xandão e Igor, muito obrigado mesmo pela parceria e pela aventura.
E que venham muitas outras!!
Por W. Junior, com revisão de Igor Costa
Aqui o esboço do croqui revisado a partir das anotações que fizemos (agradecimento especial ao Igor pela criação da versão digital):
Mais algumas fotos da aventura: