CASAMENTO NA MONTANHA
Marcus V. Carrasqueira

Mergulhadores casam-se no fundo do oceano, paraquedistas casam-se em queda livre, ciclistas casam-se em meio a pedaladas, maratonistas casam-se durante a corrida, surfistas casam-se sobre as pranchas e aeronautas casam-se em pleno voo comercial. Montanhistas não ficam longe da regra, casam-se na montanha!
Em 2011, Jhonny Pacheco e Heydi Paco escalaram por três dias as encostas escarpadas do Monte Illimani, na Bolívia, para realizar um sonho quase impossível: casar-se a mais de 6 mil metros de altitude. Ainda naquele mesmo ano, Andrew Hughes alcançou o cume do Monte Evereste e tirou do bolso uma pequena bandeira que dizia: “Lauren, queres casar comigo?”.

Não precisamos ir tão longe nem tão alto. No dia 21 de outubro passado, três casais de montanhistas ligados a clubes cariocas decidiram confirmar a união das suas vidas na Pedra do Altar, localizada na parte alta do Parque Nacional de Itatiaia. Se montanhas são catedrais onde Anatoli Baukreev praticava sua religião, as Agulhas Negras foram as torres góticas que emolduraram a bela cerimônia matrimonial entre Luciana Nogueira & Jorge Graf, Patrícia Duffles & Lucas Gonçalves e Thatiana Marques & Bruno Waldman.

O tempo estava perfeito, sem sol escaldante, vento estorvante ou chuva irritante. Todos se encantaram com o cerimonial do casamento na montanha, em especial os marinheiros de primeira viagem. Com razão, a liturgia do enlace coletivo foi seguida à risca, tendo noivos, padrinhos e padre vestidos conforme manda o figurino, noivas conduzidas por seus respectivos padrinhos e padre ocupando posição de eminência no ponto mais alto, perto do céu. Destaque para a madrinha Miriam Gerber, entoando a marcha nupcial de Wagner.

Puppin incorporou o padre de forma tão convincente que um dos jovens convidados perguntou se tínhamos trazido um clérigo de verdade. Na descida, esse mesmo rapaz teve baixa de pressão por deficiência alimentar. Mineirinho de Uberaba, deixou para abrir o queijo e a goiabada aboletados no fundo da mochila somente em caso de emergência, para a felicidade daqueles desinteressados que ficaram por perto para ajudá-lo. O padre não viu a cena, mas jurou de pés juntos que essa foi a última vez de protagonismo do personagem, mesma ameaça feita no ano passado.

À noite, na pousada, os participantes se prepararam para a confraternização. Mariozinho fez contorcionismo para se trocar na casinha de cachorro reservada para sua estadia. Cláudia Eloy trouxe uma big caixa de som com luzes psicodélicas coloridas, vista de longe parecia um disco voador. A excelente seleção musical incentivou o crescente ritmo dançante, conforme o vinho baixava de nível nas garrafas. As cadeiras se esvaziaram e a pista se encheu com candidatos a travoltas e madonas. A matriarca anfitriã preparou um bolo típico da cultura simples da roça, tanto no acabamento quanto no delicioso sabor. Do lado de fora a saparia também comemorava a seu modo, deleitando-se com insetos atraídos pela iluminação. A farra foi completa.

CERJ é o clube inovador nesse tipo de evento social. O primeiro casamento na Pedra do Altar que se tem notícia nesse século foi o da Miriam com Geraldo, em 2004. Uma vez aberta a porteira por ela passaram Natascha & Ricardo “Draga”, Anabel & Marcelo “Magal”, Mari & Kátia, Jéssika & Diego, Cleide & Tiago e Michelle & Rodrigo, além da renovação dos votos de Ana Paula & Emílio.

Vinte anos depois, em sintonia com a evolução dos valores no Montanhismo fluminense, outra importante novidade marcou a festa desse ano: casamento interclubes, com Luciana & Jorge representando o CEG na troca de alianças. Bom sinal de mudança dos tempos. Tudo indica que haverá aumento do número de casais nas edições vindouras, o amor está no ar. A clientela se mostra mais exigente, o padre Puppin precisará de uma reciclagem nos conhecimentos dos ritos canônicos para atuar na próxima temporada!